Informações do Projeto
Nome Ações do plano de gestão territorial
Categoria Manejo de Fauna
Quando começamos a lutar pelos nossos direitos à nossa terra nos anos 80, também passamos a proteger a biodiversidades e o uso sustentável dos recursos naturais. A caça e os peixes estavam se tornando escassos tornando difícil para as famílias devido às invasões que aconteciam pelos não índios.
Já antes da demarcação da nossa terra, em 1992, começamos a investir cada vez mais na proteção e manejo sustentável dos recursos naturais, para garantir uma qualidade de vida melhor para nosso povo. Neste tempo já discutíamos a necessidade de um plano sistematizado de manejo de flora e fauna. Foi aí que criamos um plano de manejo voltado para a proteção dos diversos recursos existentes no nosso território e uso sustentável com apoio da CPI-AC. Dentro deste processo, analisamos quais recursos se encontravam ameaçados e o que tínhamos que fazer para recuperá-los. Discutimos quais mudanças teríamos que fazer internamente, dentro da nossa terra, para garantir a recuperação dos recursos, como a caça, a pesca, a madeira. Buscamos informações de fora, encontramos parceiros para nos orientar, a partir da nossa decisão do que era necessário recuperar no nosso território.
Com a ajuda da CPI-AC, realizamos o etnomapeamento, que é um orientador que mostra as áreas de nosso território onde poderíamos caçar e pescar, como também as áreas reservadas para a reprodução da fauna chamada áreas de refúgio de animais. Todos trabalhos realizados pela comunidade anteriormente foi sistematizado no plano de manejo e etnomapeamento. Como podem ver que em 1990, criamos a primeira área de refúgio em nossa terra, entre os rios Revoltoso e Amoninha e em 1995, com TI.
Demarcada reposicionamos a aldeia e criamos novas áreas de refúgio.
Em todo nosso trabalho, quando observamos que alguma espécie se encontra ameaçada, nós registramos, discutimos e trabalhamos a recuperação. Por exemplo, nós temos algumas espécies que se encontram com uma população baixa em nosso território, como o mutum, o macaco preto e o macaco barrigudo, estamos trabalhando para proteção e recuperação destas espécies internamente e trabalhamos também com as comunidades vizinhas, para que estas lutem pela proteção.
Em nosso Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) decidimos o seguinte:
Na área da caça:
1 – Cachorro caçador: Fica proibido o uso de cachorro (paulista, americano, etc.) para a caça de animais grandes (veado, porquinho, queixada, anta) em áreas mais distantes. O cachorro que não é de raça caçadora pode caçar os animais pequenos que atacam o roçado, como a paca, a capivara, a cotia, etc. Cada família pode criar apenas dois cachorros.
2 – Caçada: Identificar a época de reprodução de cada animal e caçar menos no tempo de filhotes.
3 – Capivara e jacaré: Há abundância dessas espécies na terra indígena, mas a carne desses animais não é consumida por nós, Ashaninka. Portanto, devemos usar a carne do jacaré e da capivara nos cursos e eventos que acontecem na aldeia Apiwtxa. Como, em alguns casos, a capivara traz problemas comendo as roças de praia, podemos pensar em um plano de exploração e venda da carne desse animal junto ao IBAMA.
Na área da pesca:
1 – Oaca: Controlar o plantio de oaca. Sugerimos no máximo quatro pés por roçado.
2 – Pesca com bicheiro: Pescar com bicheiro durante um ano e deixar de pescar nos próximos dois anos. No ano de pesca com bicheiro, combinar com a comunidade quais serão os remansos utilizados para mergulho.
3 – Pesca com tarrafa: Não cobrir a pauzada com a tarrafa para fazer bateção.
4 – Bodo: Não pegar bodo no tempo em que eles estiverem ovados.
5 – Construção de açude: Serão construídos em mutirão para cada família. Cada uma colocará os peixes que tem vontade de criar. Haverá um açude grande, comunitário, para a criação de tracajá, tartarugas e peixes.
6 – Piracema: Atualmente, os pescadores e a população do entorno não deixam mais subir piracema; fecham o rio com malhadeira e pegam todos os tipos de peixe. Representantes da comunidade devem participar e exigir a fiscalização na época da piracema no município de Marechal Thaumaturgo e no baixo rio Amônia (que fica fora da Terra Indígena).
7 – lagos: Não limpar a beira e os balseiros dos lagos que são usados para pescar.
Através deste trabalho, conseguimos recuperar os peixes que estavam se acabando no rio e começamos a trazer de volta a floresta e as espécies que estavam se acabando. E para fortalecer ainda mais este trabalho, criamos um plano para impedir a entrada dos caçadores e dos madeireiros que exploravam a nossa terra.
Hoje, alcançamos um alto nível de conforto, tranquilidade, liberdade e autonomia em nossa comunidade. Mesmo assim, continuamos lutando para manter esta qualidade de vida. Através de nossa luta, reconhecemos a importância de se ter um território, de saber a importância dele, dos rios com as águas limpas, com os peixes, com as florestas, com as espécies da fauna e flora sendo cuidadas.