Em entrevista ao programa Gazeta Entrevista, nesta terça-feira, 20, a liderança indígena do povo Ashaninka do Acre, Francisco Piyãko, saiu em defesa do povo Nawa, que ao longo da história sofre com a falta de reconhecimento e invasão de seu território. Francisco é também coordenador da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj).
“O povo Nawa, ao longo dos últimos 20 anos, tem enfrentado muitos problemas e enfrentam um certo preconceito. Eles estão fazendo um movimento no sentido de chamar atenção para as dificuldades de demarcação do seu território. O povo Nawa precisa ser tratado com cuidado, a situação deles merece uma atenção especial”, alertou a liderança Ashaninka Francisco Piyãko.
O povo Nawa perdeu parte significativa do seu território na região do Juruá no “tempo das correrias”, devido aos conflitos com seringalistas interessados na exploração de recursos naturais na região, sendo sua terra reduzida ao que hoje compreende parte da área norte do Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD). Suportando um processo que se estende desde 1999, a Terra Indígena Nawa é uma das muitas terras indígenas no Brasil que aguardam demarcação.
Ainda segundo Francisco, a cultura, família e modo de vida dos Nawa foram violentadas. “Eles sofreram devido a ausência do Estado e quando se manifestam, ainda sofrem preconceito. O povo Nawa é legítimo e tem história, portanto, deve ser atendido”, frisou. Por contra própria, o povo Nawa está realizando a autodemarcação do seu território, pois as lideranças relatam um crescente no número de invasões, que tende a aumentar muito com a possível construção de uma estrada, ligando Cruzeiro do Sul a Pucallpa no Peru, cortando a Serra do Divisor.
As invasões em sua maioria são para caça, pesca, formação de pastagem para criação bovina e retirada de madeira, além de ocupação ilegal, que prejudica as quase 50 famílias indígenas que vivem na região dos igarapés Jordão, Pijuca, Novo Recreio, Boca do Branco, 7 de Setembro, Aquidabá, Jarina, Venâncio, Jesumira e na margem direita do rio Moa.
Durante a entrevista, Piyãko também comentou sobre a visita que fez ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, para denunciar a construção dessa estrada entre Cruzeiro do Sul e Pulcallpa. “Nós mostramos ao presidente do STF que diante de todos os problemas que o Brasil enfrenta, o Acre desaparece. Nós conseguimos levar a mensagem de que eles são guardiões da Constituição e o que é garantido a nós, povos indígenas, deve ser respeitado”.