O movimento indígena Acampamento Terra Livre 2022 está mobilizando povos de todos os lugares do Brasil. Em Rio Branco, no Acre, na manhã desta quarta-feira, 13, as lideranças indígenas que estão promovendo o ATL, no estado, ocuparam a Assembleia Legislativa (Aleac), durante uma audiência pública promovida para debater as pautas dos povos originários.
Essa é a primeira vez que o Movimento Terra Livre é promovido no estado acreano. Em uma mobilização histórica, os povos indígenas acamparam nos três últimos dias na Praça Povos da Floresta, em frente ao Palácio Rio Branco. A mobilização nacional do ATL tem como tema em 2022 a “Retomada do Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política”.
Na Assembleia Legislativa, a coordenadora da Organização das Mulheres Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Nordeste de Rondônia (Sitoakore), Nedina Yawanawá, falou sobre a invisibilidade que as políticas públicas para os povos indígenas têm recebido nos governos Bolsonaro e Gladson Cameli.
“Estamos aqui para dar visibilidade sobre o Acampamento Terra Livre Acre 2022, que em nível nacional reúne inúmeros povos indígenas, e que no Acre ocorre pela primeira vez. Cansamos de esperar, os povos originários do Acre têm esperado demais ao longo dos anos e, infelizmente, o que tem acontecido são retrocessos dos nossos direitos adquiridos. Nós estamos aqui para dizer que queremos ser valorizados, respeitados pela sociedade, pelo povo brasileiro. Não viemos pedir licença, não estamos pedindo, estamos exigindo que se cumpram as leis que já existem na Constituição Brasileira. Infelizmente, nem mesmo a Constituição está sendo respeitada. Nós não queremos que ninguém fale mais por nós. Nós sabemos o que queremos”, enfatizou Nedina.

Foto: Sérgio Vale
A liderança do povo Ashaninka e da Aldeia Apiwtxa, Francisco Piyãko, destacou que o movimento dos povos indígenas não começou agora. “Eu queria dizer que cada momento como esse parece que é um começo. Mas, para quem é do Acre, sabe que não estamos começando nada. O movimento indígena está mobilizado em nível de Brasil nos estados, nas comunidades. E é muito fácil trabalhar com os povos indígenas, basta conversar. O Brasil está perdendo essa ferramenta, que é o diálogo, a cultura de conversar com os povos. Não apenas com os povos indígenas, mas todos os segmentos da sociedade têm uma história que não pode ser apagada ou colocada embaixo do tapete. A gente precisa contar com os debates já construídos para avançar”, salientou.
Confira o documento final do ATL Acre 2022
Piyãko também falou sobre a ocupação dos povos indígenas nos espaços de poder, o “aldear a política”. “Nós precisamos participar dos debates, fazer parte dos espaços. Aldear a política é necessário! Aldear significa conhecer os mecanismos, procurar ocupar os espaços, concorrer a cargos na política também, debater isso dentro das nossas casas. Pois, a não presença nossa nesses espaços políticos, nos faz correr o risco de perder todas as nossas conquistas. O Congresso Nacional não está preocupado com as minorias, é necessário haver um equilíbrio para que está sendo construído não destrua as conquistas”, destacou Piyãko.
Por fim, Piyãko orientou os parlamentares sobre os passos que devem ser dados para que o país não tenha ainda mais perdas e retrocessos. “Para seguir avançando, temos que trabalhar de forma coletiva. Precisamos ter mais espaços, como esse, para diálogo. E o Brasil está perdendo muito. Porque está virando as costas para os povos indígenas. Isso é uma ignorância total, nós estamos gastando muita energia para tentar defender nossas conquistas, ao invés disso, poderíamos estar construindo o progresso com desenvolvimento sustentável”.
A Audiência Pública foi protocolada pelo deputado Edvaldo Magalhães, ouvindo um pedido do Movimento. O deputado Daniel Zen apresentou, na ocasião, uma proposta para criar uma Comissão Para Assuntos dos Povos Indígenas na Aleac.

Foto: Sérgio Vale