A Apiwtxa iniciou a atualização do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) e o Etnomapeamento da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, o Plano de Vida do Povo Ashaninka. Toda a comunidade esteve presente na primeira semana de trabalho, nos dias 2 e 7 de maio, na Aldeia Apiwtxa, conversando sobre as mudanças dos últimos anos, apontando locais de caça, pesca e também das ameaças e invasões, além de discutir as necessidades de novas demandas dentro da saúde, cultura e gestão do território.
Com uma participação forte de mulheres, a quarta reunião para atualização do Plano de Vida contou com mais de 180 participantes, que incluíram professores, os consultores Billy Fequis e Gleylson Teixeira, da Comissão Pró-índio (CPI-ACRE), lideranças, jovens, sábios e agentes de saúde e agroflorestais. Foi discutido tanto as ameaças à Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, na fronteira com Peru, quanto desenhou-se novas estratégias para lidar com elas. Uma verdadeira democracia indígena em ação.
“As mulheres têm muita força e estamos felizes que conseguimos participar desse jeito”, disse Dora Piyãko, agente de saúde e presidente da Cooperativa Ayõpare – que vende os produtos e artesanatos que os Ashaninka produzem. ‘’As tsinani [mulher] não estão só pensando nelas, elas estão pensando em todos, todo o território do povo Ashaninka. A gente sabe que, historicamente, as mulheres cuidam das coisas internas da casa, como cuidar dos filhos, alimentação, etc. Mas hoje a gente está vendo muitas mulheres participando de espaços importantes da organização da comunidade. Porque elas também sabem pensar, falam suas opiniões, ideias de contribuir, formular da mesma forma que os homens”, falou Guta Assirati, advogada e ex-presidente da Funai, órgão indigenista oficial do estado brasileiro.

Foto: Yara Piyãko
O primeiro Plano de Gestão Territorial e Ambiental e o Etnomapeamento – que os Ashaninka chamam de “Plano de Vida”, porque lida com o todo – foi construído em 2004, com revisões em 2005, e 2016. Entre os assuntos, se destacou a vigilância e monitoramento da Terra Indígena, cujos os 87 mil e 205 hectares de florestas e rios estão bem protegidos. Seus postos de monitoramento e o patrulhamento que grupos de Ashaninka fazem, viajando dias no Rio e acampando, têm reduzido invasões de caçadores e madeireiros peruanos – mas os participantes da reunião concordaram que é muito importante manter e até melhorar a fiscalização do território.
A necessidade de escrever um Plano Político Pedagógico para dar continuidade a uma educação que combina escola e conhecimento tradicional também foi discutida, bem como a importância de manter o uso das tradições. Outro ponto abordado foi a ampliação de intercâmbios em torno da região, de realidades e experiências em desenvolvimento sustentável, e ações de conscientização socioambiental relacionada à gestão ambiental.
Os Ashaninka falaram sobre a importância de manter o fortalecimento tradicional e cultural, a exemplo da vestimenta kitharentsi (túnicas) para homens, mulheres e jovens. As músicas, rituais e danças Ashaninka, todos os costumes do povo que vem passando de geração a geração desde os tempos antigos, também

Foto: Yara Piyãko
A liderança Francisco Piyãko observou que além de promover um trabalho dentro da comunidade, o povo Ashaninka também atua fora de seu território. “Nós estamos planejando o nosso futuro para nós mesmos. Esse momento é importante, pois resgata a nossa história. Muitos aqui perderam a memória ou mesmo nem sabem o que aconteceu nesses últimos 20 anos, nem sabem como foi a conquista de liberdade das dependências da mão dos ‘patrões’ [madeireiros, caçadores]. Esse encontro traz esse resgate, a partir da nossa trajetória e lutas, que vão apontar para o que queremos no futuro”, afirmou.
Ao todo, foram cinco dias com muita conversa e aprendizado para os jovens, tanto mulheres quanto homens. Muitos que não tiveram a oportunidade de ver do início esta organização, pois não eram nem nascidos, tiveram o privilégio de ouvir e aprender e conhecer mais sobre seu território e o entorno também.
“A nossa riqueza é o nosso conhecimento, nós temos tudo na nossa terra. Sabemos fazer os nossos roçados, plantações. A participação das mulheres foi muito importante, pois elas trouxeram uma visão diferente dos homens e isso agrega e expande. Dentro da nossa sociedade e da nossa comunidade, as mulheres têm um papel muito importante, e a perspectiva delas é fundamental na construção do nosso plano”, observou o presidente da Associação Apiwtxa, Wewito Piyãko.
A saúde indígena também foi tema do encontro, a partir do uso de medicinas tradicionais, como ervas, raízes, folhas e saúde dentro da comunidade não depende do remédio da das farmácias coloca a proposta de fazer pesquisa sobre medicinas tradicionais, espécies tanto da mata como caseiros.

Foto: Yara Piyãko
O técnico da Comissão Pró-Índio (CPI), Gleilson Teixeira, destacou a importância do momento. “Esse encontro é fundamental, pois as necessidades vão se atualizando, é um processo constante. E é aqui que as coisas se definem e se consolidam. Esses momentos são fundamentais, como aulas para os mais jovens, como forma de engajá-los ao compromisso que os seus pais fizeram e vêm fazendo”, salientou.
A Atualização do PGTA e Etnomapeamento é uma ação do projeto Nossas Futuras Florestas – Amazônia Verde, uma parceria da Conservação Internacional Brasil com a Apiwtxa. O Nossas Futuras Florestas – Amazônia Verde está trabalhando para conservar até 12% da Amazônia (cerca de 73 milhões de hectares) até 2025. Apoiado pelo governo francês, é uma das prioridades de conservação da Aliança para a Proteção das Florestas Tropicais, uma iniciativa para a proteção, restauração e manejo sustentável das florestas tropicais.
Esta matéria foi escrita e produzida em parceria com Yara Piyãko, aluna da Oficina de Comunicação, também ação do projeto Nossas Futuras Florestas – Amazônia Verde.