Os povos indígenas do Acre consolidaram mais uma importante parceria para a proteção dos territórios e recursos naturais, durante o Encontro Binacional Transfronteiriço Juruá, Yurúa, Alto Tamaya, promovido em abril deste ano, em Breu, no Peru. A aliança definiu estratégias coletivas para que os povos indígenas sigam desenvolvendo projetos em suas comunidades, a partir de uma lógica sustentável que tem como foco a manutenção da floresta, dos territórios, da cultura e da fauna e flora.
“É importante as comunidades e lideranças do Peru e Brasil tocarem agendas comuns, a partir de um processo discutido no Congresso Internacional e da aproximação Apiwtxa e Aconadiysh. Estamos ampliando a representativa para os povos de toda a região, com a Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj). Uma comissão de líderes que está trabalhando para chegar nesse momento hoje, um ponto de encontro de povos indígenas e instituições que estão democratizando”, destacou a liderança do povo Ashaninka do Acre, Francisco Piyãko. O evento reuniu os seguintes povos indígenas: Ashaninka, Asheninka, Yanesha, Amahuaca, Chitonahua, Yaminahua/Jaminawa, Apolima Arara, Kuntanawa, Huni Kuin/Kaxinawa, Katukina, Sharanawa, Nawa, Puyanawa e Nukini – Brasil e Peru.

Foto: Bianca Piyãko
Com a assinatura de um Termo de Cooperação, entre Aconadiysh (Asociación de Comunidades Nativas para el Desarrollo Integral de Yurua) e Opirj, o coordenador da Opirj, Osmildo Kutanawa, salientou a importância da união no fortalecimento da luta dos povos indígenas. “Não podemos deixar enfraquecer a luta, estamos em um momento de parceria dos povos indígenas em ambos os lados da fronteira. Todas as lutas da Opirj do lado do Brasil têm um só objetivo: a defesa da vida e da floresta, do nosso bem-estar e de todo o planeta. Enquanto estamos aqui lutando para defender as florestas e o futuro de uma nova geração, os governos estão trabalhando para destruir”, observou.
O encontro culminou na elaboração da Declaração de Puerto Breu. “Reiteramos nossa aliança estratégica que mostra nossa total vontade de alcançar um desenvolvimento equilibrado, sustentável, com respeito às nossas tradições, interagindo de maneira respeitosa com os Estados. A irmandade dos povos indígenas não se limita com as fronteiras dos Estados. Nós, povos indígenas, nos reconhecemos como cidadãos da floresta e guardiães da vida no planeta”, diz o documento. O evento discutiu também a importância da luta contra a abertura ilegal da estrada no Peru, UC-105, que liga Puerto Breu a Nueva Italia, invadindo territórios indígenas e botando em risco toda a região.

Foto: Bianca Piyãko
O coordenador da Orau, Berlin Diques, chamou atenção para resistência dos povos indígenas, como um exemplo para o mundo. “Esse intercâmbio entre líderes indígenas do Brasil e Peru tem uma importância imensurável. Estamos nos organizando, pois não podemos depender do Estado. Se nós não nos organizarmos para cuidar de nossos territórios, não serão eles que farão isso. Agradeço imensamente a participação de todos os povos por caminharem nessa resistência há milhares de anos. Os governos e países nunca valorizam a resistência dos povos indígenas, por isso, nossa luta é constante”, disse.
Como desdobramento, foi acordada a realização de um intercâmbio entre as mulheres indígenas, trazendo a importância das mulheres na contribuição para o desenvolvimento da ciência por meio do seu conhecimento ancestral. O Encontro Binacional Transfronteiriço Juruá, Yurúa, Alto Tamaya foi um desdobramento do Congresso Internacional Apiwtxa, ocorrido em Novembro de 2021, na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, no Acre.
Esta matéria foi escrita com produção e informações de Bianca Piyãko, estagiária da Associação Apiwtxa e participante da Oficina de Comunicação, realizado por meio do projeto Nossas Futuras Florestas – Amazônia Verde, parceria da CI Brasil com a Apiwtxa.
Confira a Declaração de Puerto Breu
- Foto: Maria Emilia Coelho
- Foto: Bianca Piyãko
- Foto: Bianca Piyãko
- Foto: Bianca Piyãko
- Foto: Bianca Piyãko
- Foto: Bianca Piyãko
- Foto: Bianca Piyãko
- Foto: Bianca Piyãko
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