O povo Ashaninka do Acre conquistou a Terra Indígena Kampa do Rio Amônia em 1992, situada em Marechal Thaumaturgo. Liderados por Antônio Piyãko, fundaram a Aldeia Apiwtxa em uma antiga área de fazenda, à época, totalmente desmatada. Após três décadas, com muito trabalho de reflorestamento em toda sua área e arredores, a comunidade leva uma mensagem de propósito, união e trabalho ao mundo.
“É tão forte ver se consolidando o que nós pensamos e planejamos a partir de nossas necessidades e território. Hoje, temos a abundância da produção florestal no terreiro da nossa casa, deixando a floresta livre para os animais se alimentarem”, destaca Moisés Piyãko, vice-presidente da Associação Apiwtxa, sobre o trabalho desenvolvido pela Apiwtxa na área de produção agroflorestal e a importância da história de luta e superação na criação das crianças e do futuro da comunidade.

Foto: Arison Jardim
Emocionado, após uma tarde de coleta de frutas em seus Sistemas Agroflorestais, a liderança observa o quanto o trabalho tem rendido resultados positivos para segurança alimentar de todos, em especial, das crianças. “Nossos filhos, hoje, podem desfrutar de uma diversidade de frutas, e isso me deixa muito feliz. Pois, quando nós éramos crianças, isso não existia. Não consigo nem expressar a minha alegria em ver e viver esse momento”. Neste momento, no terreiro, uma de suas filhas trazia um cacho de açaí e em seguida um outro cacho de bacaba, colocando todos juntos a uma variedade de frutas na cozinha da casa, como pupunha, cupuaçu e banana.
Graças ao trabalho planejado de produção agroflorestal, na Apiwtxa a alimentação é balanceada e equilibrada. Com o sucesso da atividade, os Ashaninka estão se organizando para iniciar a comercialização da produção. A demarcação do território foi fundamental para a consolidação do movimento, uma vez que, antes disso, os indígenas não eram considerados donos legais de suas terras e tinham que trabalhar para não indígenas, em situações análogas à escravidão, como relata Moisés.
“Não é que a gente fosse preguiçoso ou não soubesse plantar, mas, antes estávamos à mercê dos ‘patrões’ [invasores] e não tínhamos tempo, pois trabalhávamos para eles [latifundiários]. E, depois que conquistamos a terra, passamos a ter o direito de cuidar, plantar e morar, e trabalhar para a gente. A partir disso, passamos a pensar o nosso futuro, os nossos sonhos, a gestão do nosso território e colocar tudo isso em prática. E trabalhar para nós é cuidar daquilo que faz parte da nossa vida, é cuidar que os nossos filhos se alimentem bem. Não trabalhamos para ser ricos ou poderosos, mas, bem alimentados e saudáveis”, endossa Moisés.
Para a liderança, o cuidado com a floresta representa vida. “Isso é remédio, é vida, é cuidar da gente, olhar para nós, cuidar da nossa família e filhos para que possam se alimentar bem. Isso é o que muitas pessoas precisam e, geralmente, querem a terra apenas para destruir”, pontua.
Produção Agroflorestal
O modelo de cultivo como os Sistemas Agroflorestais é desenvolvido há milênios pelos povos indígenas, que utilizam uma forma de plantio consorciado para se alimentarem e, atualmente, gerar renda às comunidades. Na Apiwtxa, por exemplo, essa iniciativa foi responsável pelo reflorestamento de quase toda a área da Aldeia, após a demarcação da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia na década de 1990.
Atualmente, esta atividade dos agentes tem o apoio por meio do projeto Nossas Futuras Florestas – Amazônia Verde, uma parceria da Conservação Internacional (CI Brasil) com a Associação Apiwtxa. Dentro das ações executadas no projeto, está a contratação de dois agentes agroflorestais na comunidade para ampliar o alcance de suas atribuições. Acesse aqui para saber mais.

Foto: Arison Jardim